terça-feira, 22 de março de 2011

Conto

“O Sr. Ciência, o Usui e o Reikinho”

Joana Lopes

Janeiro de 2011

Ela é uma rapariga cheia de brilho. Quando se olha para ela, todos ficam encantados. Não interessa de que cor são os olhos, como é o seu corpo, o que veste, tal é a forma com que encanta. Muito organizada, responsável e muito mas muito delicada, como se fosse uma fada dos contos de encantar.

Ele é um rapaz muito parecido com ela, mas com um ar protector, e mais parece um príncipe. E quando se abraçam, ficam tão perfeitos que parecem um só. Andam sempre juntos, sorrindo e dançando e respondendo à vida.

Vivem numa casa muito grande. É tão grande que dentro dela cabem todas as casas, carros, ruas, pessoas, bicicletas, trotinetas, triciclos, bonecos, animais que existem no mundo. São um casal muito, muito feliz, mas os seus vizinhos pensam que eles são muito estranhos, diferentes de todas as pessoas que conhecem, principalmente aquele vizinho de poucas palavras, olhos grandes, mãos delicadas e um andar muito calmo e silencioso, o Sr. Ciência.

Para celebrar o seu amor, resolveram ter um bebé e como todos os papás, preocuparam-se em preparar o quarto para receber a melhor prenda que podiam ter. Pintaram o quarto de sete cores! A porta foi pintada de laranja, o chão de vermelho, uma parede amarela, outra verde, o teto violeta, o armário azul índigo e a cama azul da cor do céu. Um verdadeiro quarto para sonhar, brincar, pular e rir.

Tinha chegado o grande dia. Quando chegaram a casa, lá estava o Sr. Ciência parado perto do portão à espera de ver o novo elemento da família. A D. Energia vinha radiante, abraçada ao Sr. Universo com o Reikinho nos braços. Os três vinham tão felizes que com tanto brilho ofuscavam. Por isso, o Sr. Ciência, que não aguentava de curiosidade, chegou-se perto deles. Quando olhou para o Reikinho, os seus olhos abriram tanto que a testa desapareceu. Jamais o Sr. Ciência levará o Reikinho a lanchar a sua casa para poder comer as suas famosas bolachas e beber o fantástico chocolate quente.

Alguns dias passaram e o Sr. Ciência começou a mudar de opinião, não pensava noutra coisa senão levar o Reikinho para o seu quarto de estudo e poder observá-lo com a sua lupa gigante e as suas luvas invisíveis.

Os anos foram passando e o Reikinho foi crescendo com muita felicidade e poucos amigos. Na escola todos diziam que era um menino diferente e por isso poucos brincavam com ele. É um menino que não tem corpo mas anda, não tem boca mas fala, que faz desenhos com os dedos e parece um aquecedor porque quando se está ao pé dele sente-se muito calorzinho. Mas, no meio de todos os meninos havia um que quase não brincava com ninguém. Sentava-se nas escadas encostado à porta castanha da escola e com os cotovelos no joelho e as mãos a segurar a cara, punha-se sempre caladinho a ver os outros meninos a brincar. Até que um dia quando os meninos jogavam futebol e as meninas saltavam à corda, Usui começou a sentir um calorzinho. Era o Reikinho que estava sentado a seu lado e sorrindo dizia Cho-Ku-Rei. À medida que ía dizendo mais vezes aquele som, mais quentinho e feliz o Usui se sentia. Sei-He-KI, Hon-Sha-Ze-Sho-Nen e Dai-Koo-Myo foram sons que o Reikinho foi dizendo, ao mesmo tempo que com os dedos fazia desenhos no coração do Usui que ficava mais contente.

O Reikinho tinha feito um amigo e com o passar do tempo foram brincando os dois. Usui foi aprendendo os sons que o faziam tão feliz com vontade de até falar com as mãos, por isso aprendeu a fazer os desenhos com os dedos como o seu amigo.

Usui andava tão feliz que começou a falar do Reikinho a toda a gente. Não falava de outra coisa a não ser da alegria que vivia com o seu amigo. Os pais, que não o deixavam andar com estranhos, pediram a Usui para levar o Reikinho lá a casa e, quando o conheceram, apesar de ser um menino diferente, ficaram tão alegres, que parecia que dançavam ao som das suas palavras.

O Reikinho foi tendo mais amigos e até os seus pais já eram convidados a ir a casa dos vizinhos, menos à do Sr. Ciência, claro. Este continuava a desconfiar de tamanha alegria. Como era possível, um menino causar tanta felicidade? Para poder responder a esta pergunta e satisfazer a sua curiosidade, perdeu todo o orgulho e convidou o Reikinho para ir conhecer a sua lupa gigante e as suas luvas invisíveis. De bom menino que era o Reikinho aceitou.

Uma lupa gigante? Umas luvas invisíveis? Que máximo! Quando as viu, desatou a correr e pôs-se logo a mexer nelas e, com tamanha brincadeira, o Sr. Ciência sorria de o ver. O Reikinho mexia na lupa, virava-a de cima para baixo, de baixo para cima, rodava-a como se fosse um pião, até fez dela um escorregão fazendo da sua lente uma piscina. Das luvas fez pranchas e capas para voar. Foram tardes e tardes que passaram juntos em que o Sr. Ciência foi percebendo que o Reikinho era um menino de ouro, porque todos os que estavam à sua volta sorriam, dançavam e sentiam-se bem quentinhos. Até os animais e as plantas eram seus amigos.

Ao ver a alegria que o Reikinho causava, o Sr. Ciência, juntamente com o Usui, apresentou o menino de ouro a muita gente, dizendo que ele era o amor universal.

E assim, nos dias de hoje, no hospital, na rua, na escola, no parque infantil, no supermercado, na escola de dança, no karaté, no judo, na pintura, no hóquei, no café, na biblioteca, no carrossel, na piscina, há sempre alguém que conhece o Reikinho. E tu, já conheces?

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